O Dia de Tiradentes é celebrado em 21 de abril, como uma homenagem ao personagem da história brasileira que teve seu fim em uma forca. Tiradentes foi condenado à morte após participar ativamente da Inconfidência Mineira, também conhecida como Conjuração Mineira, que aconteceu entre os anos de 1788 e 1789.
Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, era um dentista e também alferes, cargo militar da época colonial, responsável por comandar a tropa que monitorava a estrada que ligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Tiradentes foi um dos membros mais participativos da revolta que pedia a proclamação da república, inspirada nos moldes dos Estados Unidos.
Os inconfidentes eram compostos pela elite socioeconômica da capitania das Minas Gerais e teve seu estopim após a cobrança elevada de impostos, por parte do Cora portuguesa. Apesar de ter tido uma organização bem elaborada, a revolta nunca chegou, de fato, a estourar, já que foi delatada por Joaquim Silvério dos Reis, que devia tributos à Coroa.
A revolta foi reprimida por autoridades coloniais após a delação de Silvério dos Reis, o Visconde de Barbacena deu a ordem de repressão, prisões e interrogatórios. Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro em 1789, e foi o único dos condenados que não recebeu o perdão por d. Maria, rainha de Portugal, por ser protagonista do movimento.
O dentista foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, e sua morte foi utilizada como intimidação para reprimir novas revoltar republicanas que pudesse vir a acontecer novamente. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços espalhados na estrada que sua tropa vigiava.
Veja o vídeo sobre Tiradentes:
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Tiradentes, um herói nacional
Levou mais de um século para que Tiradentes fosse reconhecido como herói nacional pela luta republicana. Segundo a autora de história do Sistema de Ensino pH, Ana Paula Aguiar, Tiradentes foi resgatado após a Proclamação da República, em 1889, para ser esse símbolo na construção do imaginário republicano no Brasil.
Ana Paula conta que a necessidade mitos e símbolos que dessem identidade à jovem República e que legitimasse essa luta política fez com que a imagem de Tiradentes fosse resgatada e apropriada. O líder inconfidente foi usado como símbolo de liberdade e resistência, bem como foi apagado as ambiguidades históricas e motivações do movimento.
“Segundo José Murilo de Carvalho, heróis são instrumentos eficazes de mobilização política, e Tiradentes foi eleito como tal porque preenchia os requisitos de sacrifício, nacionalismo e oposição ao absolutismo. Sua imagem, amplamente difundida nos livros didáticos e nas artes, reforça até hoje um ado glorioso que precisa ser constantemente revisto com criticidade nas salas de aula.”
Ana Paula Aguiar

Crédito da Imagem: Acervo pessoal
Tiradentes no Enem e vestibulares
Ana Paula Aguiar aponta que a morte de Tiradentes deve ser compreendida, por estudantes como um marco simbólico de duas naturezas:
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uma punição exemplar do colonialismo;
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uma construção ideológica no imaginário republicano.
Em um primeiro momento, a autora analisa que a morte do inconfidente por enforcamento e posterior esquartejamento seria uma “teatralização do suplício”, como analisa Michel Foucault. Para Aguiar a execução foi uma encenação do poder autoritário do colonialismo, com práticas absolutistas e voltado à intimidação pública e disciplinamento social.
A partir da Proclamação de República era preciso forjar novos símbolos de identidade nacional e esse episódio de violência estatal foi ressignificado. Apoiado nesse momento Tiradentes saiu da figura de um mero inconfidente e foi elevado à imagem de “herói-mártir da pátria”. “Sua imagem foi moldada segundo a simbologia cristã (cabelos longos, barba, vestes brancas) e comparada à figura de Jesus Cristo, como retrata o quadro O Martírio de Tiradentes (1893), de Aurélio de Figueiredo”, diz a autora.
Ana Paula ainda acrescenta que para estudantes é mais importante entender a figura de Tiradentes mais como “um exemplo da forma com que a História e a memória são constantemente reinterpretadas conforme os interesses de cada época”, do que pelo seu fim trágico propriamente dito.
Sobre a Inconfidência Mineira, Aguiar aponta que os estudantes devem compreender o movimento a partir de características do contexto histórico da época. A autora apresenta os principais pontos a serem compreendidos sobre a Inconfidência Mineira no Enem e vestibulares:
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Caráter elitista e regional;
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Influênciado pelo Iluminismo e pela Revolução Americana;
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Não rompia com a ordem escravocrata vigente;
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Situado na crise do sistema colonial no final do século XVIII;
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Movido pela opressão fiscal e pela decadência da mineração.