Dia de Tiradentes: entenda quem foi a figura histórica cobrada no Enem e Vestibulares

Autora de história, Ana Paula Aguiar, comenta como o tema é abordado no imaginário republicano e a forma que estudantes devem compreendé-lo.
Em 21/04/2025 09h00 Por Jade Vieira

Pintura Tiradentes escuartejado de Pedro Américo. Texto: títumo da matéria
Tiradentes foi enforcado e esquartejado em 1792.
Crédito da Imagem: Wikimedia Commons
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O Dia de Tiradentes é celebrado em 21 de abril, como uma homenagem ao personagem da história brasileira que teve seu fim em uma forca. Tiradentes foi condenado à morte após participar ativamente da Inconfidência Mineira, também conhecida como Conjuração Mineira, que aconteceu entre os anos de 1788 e 1789.

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, era um dentista e também alferes, cargo militar da época colonial, responsável por comandar a tropa que monitorava a estrada que ligava Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Tiradentes foi um dos membros mais participativos da revolta que pedia a proclamação da república, inspirada nos moldes dos Estados Unidos.

Os inconfidentes eram compostos pela elite socioeconômica da capitania das Minas Gerais e teve seu estopim após a cobrança elevada de impostos, por parte do Cora portuguesa. Apesar de ter tido uma organização bem elaborada, a revolta nunca chegou, de fato, a estourar, já que foi delatada por Joaquim Silvério dos Reis, que devia tributos à Coroa.

A revolta foi reprimida por autoridades coloniais após a delação de Silvério dos Reis, o Visconde de Barbacena deu a ordem de repressão, prisões e interrogatórios. Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro em 1789, e foi o único dos condenados que não recebeu o perdão por d. Maria, rainha de Portugal, por ser protagonista do movimento.

O dentista foi enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, e sua morte foi utilizada como intimidação para reprimir novas revoltar republicanas que pudesse vir a acontecer novamente. Seu corpo foi esquartejado e os pedaços espalhados na estrada que sua tropa vigiava.

Veja o vídeo sobre Tiradentes:

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Tiradentes, um herói nacional

Levou mais de um século para que Tiradentes fosse reconhecido como herói nacional pela luta republicana. Segundo a autora de história do Sistema de Ensino pH, Ana Paula Aguiar, Tiradentes foi resgatado após a Proclamação da República, em 1889, para ser esse símbolo na construção do imaginário republicano no Brasil.

Ana Paula conta que a necessidade mitos e símbolos que dessem identidade à jovem República e que legitimasse essa luta política fez com que a imagem de Tiradentes fosse resgatada e apropriada. O líder inconfidente foi usado como símbolo de liberdade e resistência, bem como foi apagado as ambiguidades históricas e motivações do movimento.

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“Segundo José Murilo de Carvalho, heróis são instrumentos eficazes de mobilização política, e Tiradentes foi eleito como tal porque preenchia os requisitos de sacrifício, nacionalismo e oposição ao absolutismo. Sua imagem, amplamente difundida nos livros didáticos e nas artes, reforça até hoje um ado glorioso que precisa ser constantemente revisto com criticidade nas salas de aula.”

Ana Paula Aguiar

Ana Paula Aguiar descreve Tiradentes como um herói nacional produzido para a República.
Crédito da Imagem: Acervo pessoal

Tiradentes no Enem e vestibulares

Ana Paula Aguiar aponta que a morte de Tiradentes deve ser compreendida, por estudantes como um marco simbólico de duas naturezas:

  • uma punição exemplar do colonialismo;

  • uma construção ideológica no imaginário republicano.

Em um primeiro momento, a autora analisa que a morte do inconfidente por enforcamento e posterior esquartejamento seria uma “teatralização do suplício”, como analisa Michel Foucault. Para Aguiar a execução foi uma encenação do poder autoritário do colonialismo, com práticas absolutistas e voltado à intimidação pública e disciplinamento social.

A partir da Proclamação de República era preciso forjar novos símbolos de identidade nacional e esse episódio de violência estatal foi ressignificado. Apoiado nesse momento Tiradentes saiu da figura de um mero inconfidente e foi elevado à imagem de “herói-mártir da pátria”. “Sua imagem foi moldada segundo a simbologia cristã (cabelos longos, barba, vestes brancas) e comparada à figura de Jesus Cristo, como retrata o quadro O Martírio de Tiradentes (1893), de Aurélio de Figueiredo”, diz a autora.

Ana Paula ainda acrescenta que para estudantes é mais importante entender a figura de Tiradentes mais como “um exemplo da forma com que a História e a memória são constantemente reinterpretadas conforme os interesses de cada época”, do que pelo seu fim trágico propriamente dito.

Sobre a Inconfidência Mineira, Aguiar aponta que os estudantes devem compreender o movimento a partir de características do contexto histórico da época. A autora apresenta os principais pontos a serem compreendidos sobre a Inconfidência Mineira no Enem e vestibulares:

  • Caráter elitista e regional;

  • Influênciado pelo Iluminismo e pela Revolução Americana;

  • Não rompia com a ordem escravocrata vigente;

  • Situado na crise do sistema colonial no final do século XVIII;

  • Movido pela opressão fiscal e pela decadência da mineração.