Ansiedade em estudantes que estão em fase de vestibular, cursando o terceiro ano do ensino médio ou cursinhos pré-vestibular, é comum. Até esse momento, os adolescentes e jovens frequentaram a escola por 10 anos ou mais e estão acostumados com uma rotina fixa e sem muita alteração, vivida, às vezes, de forma iva, já que dependem de seus pais para levá-los e garantir que eles cumpram com esse compromisso.
De repente tudo muda, e agora o desenrolar da vida depende exclusivamente desses estudantes, a começar pela escolha de profissão que exercerão, em teoria, para o resto da vida. Para chegar ao local do profissional bem-sucedido, é preciso escolher a universidade que os farão um profissional, essa escolha deve ser feita com cautela, já que nem toda instituição é “boa o suficiente”.
Todos esses fatores, atrelados ao ambiente de competição em que o estudante, geralmente, é inserido dentro de sala de aula, muitas vezes estimulado pela própria escola, acaba causando ou agravando quadros de ansiedade. Segundo a psicóloga e pedagoga Débora Cristina de Araújo, o ambiente e as condições oferecidas para o momento de estudos são alguns dos principais intensificadores do processo de ansiedade.
Identificar a ansiedade nesses estudantes, especialmente quando não existe intimidade ou proximidade com a pessoa pode ser complicado, mesmo perante sinais de inquietação. A ansiedade se manifesta de maneiras distintas em cada pessoa, logo, é pessoal e particular, para identificá-la em alguém é preciso conhecer bem a pessoa, ainda assim, não é seguro.
A psicóloga Lucélia de Paula comenta que existem alguns sinais de ansiedade que podem ser identificados na maioria das pessoas, como agitações motoras, roer unha, balançar a perna ou andar de um lado para o outro de forma frenética. Para Lucélia, a forma mais segura, em sala de aula, para tranquilizar estudantes de vestibulares é fazê-los perceber sensações palpáveis e os trazê-los para onde estão e em que devem se concentrar.
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Crédito: Arquivo pessoal.
A pressão do vestibular em estudantes
A cobrança do pré-vestibular inicia antes mesmo do processo de prestar vestibulares em si, a escolha do curso é feita sob o olhar de uma sociedade que assume seletos cursos como “corretos”. Segundo Débora, a ideia propagada em ambientes de pré-vestibular é de que existe apenas uma escolha a ser feita nesse momento, tanto de curso como de faculdade, mesmo que esse não seja o caminho que o estudante deseja seguir.
Na verdade, a ideia da graduação para o vestibular é o pontapé inicial. É o início do que vai ser uma trajetória profissional, não necessariamente o que a pessoa vai seguir por toda a vida.
Débora Cristina de Araújo
Débora destaca que, além da pressão sobre a escolha do curso, também existe uma norma de que tudo seja feito em um tempo previamente estipulado, sem a possibilidade de flexibilização ou opção de outro momento para ser aprovado, se não o agora. Para isso, os estudantes acabam desenvolvendo a ideia de ter que ar todo tempo possível concentrado no que o levará à aprovação.
Júlia Marie, vestibulanda de medicina, acreditava que deveria ar todos os dias no cursinho pré-vestibular até oito horas da noite, já que era algo que todos faziam, logo, para ela ser aprovada, também deveria fazer. Enquanto cursava o segundo ano de cursinho, em 2024, ela se viu em um limbo de estudar dia e noite e se cobrar de estar cada vez melhor.
O medo de não ser aprovada no vestibular novamente e ter que ar por mais um ano dessa rotina desgastante fez com Júlia tivesse uma crise de ansiedade tão forte que a impedia de comer. Enquanto ava por esse momento, ela se questionava qual seria a razão, imaginando as diversas doenças que já tinha estudado.
Depois de ar meses achando que toda sua vida deveria girar em torno dos estudos para vestibular, Júlia entendeu que era preciso achar um equilíbrio entre estudar o que é necessário e ter um tempo de ócio que alivie a cobrança.
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Crédito: Arquivo pessoal
Como lidar com a ansiedade do vestibular?
O momento do vestibular é um ponto crítico e importante da trajetória dos estudantes, nesse momento é importante se concentrar e trabalhar de forma que deixe as coisas da maneira mais segura possível. Júlia conta que em dias de vestibular gosta de ter sua família presente, bem como chegar ao local com antecedência, para poder focar sua energia no processo da prova.
A vestibulanda de medicina, Kamilly Rufino, diz que procura manter uma rotina saudável e tranquila, com momentos que ela possa gastar a energia que acumula pela ansiedade, uma de suas táticas é praticar atividade física pelo menos duas vezes por semana. Apesar de manter a rotima da melhro forma possível, Kamilly também relata momentos de ansiedade antes de vestibulares.
Segunda ela, quando estava preste a entrar para realizar uma prova do vestibular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) ou por um momento de estresse e paralisia, nesse momento Kamilly contou com o apoio da mãe para se acalmar e conseguir fazer a prova. Em momento como esse, Lucélia conta que é importante sabe como se tranquilizar
As pessoas falam muito do que é gatilho ou disparador para a ansiedade, mas não falam sobre os recursos. É importante se conhecer a nível de saber o que pode ajudar em momentos de ansiedade.
Lucélia de Paula
Entender quais são os recursos para lidar com a ansiedade é uma das chaves para controla-la. Lucélia acrescenta, apesar de competirem por uma vaga, vestibulandos também competem consigo mesmos, uma vez que têm que lidar com a capacidade de sustentar a atenção durante as horas de vestibular. Segundo ela, vestibulandos devem conhecer os recursos a serem usados para se acalmar e poder ar o conhecimento acumulado em anos de estudos.
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Crédito: Divulgação/Líder em Mim
Dicas para lidar com a ansiedade do vestibular
O escritor do livro “Os 7 hábitos de adolescentes altamente eficazes”, Sean Covey, conta que a ansiedade e depressão são transtornos que caminham juntos, e se tornaram uma pandemia em jovens ao redor do mundo. Para ele, dizer que alguém sofre com ansiedade pode ser muito difícil, mesmo se tratando do melhor amigo, mas os pais desses vestibulandos devem sempre oferecer ajuda.
Sean defende que abrir espaços seguros para conversas com vestibulandos é um dos caminhos mais seguros de garantir que eles se sintam confortável para compartilhar o que estão ando, uma vez que esses transtornos não mais silencioso que se imagina. Apesar de ter ganhado um lugar de discussão nos últimos anos, problemas com saúde mental ainda são considerados tabus.
É importante que amigos, pais e professores conversem e permitam a existência de espações para esses estudantes compartilharem que estão se sentindo ansiosos, depressivos ou se estão lidando com algum problema de saúde mental. Porque não é sempre claro, ainda pode ser escondido e silencioso.
Sean Covey
Covey enumera algumas dicas para lidar com a ansiedade:
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Ser proativo, se preocupar com o que você pode controlas;
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Estabelecer os objetivos para o momento;
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Manter bons relacionamento com amigos e família;
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Dedicar tempo para si próprio e coisas que você gosta;
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Aprender a respirar da melhor forma.
Em seu livro, Sean desenvolve alguma dessas dicas, que também são utilizadas como guia para o programa Líder em Mim, presente em 70 países. O programa trabalha para auxiliar o desenvolvimento socioemocional de estudantes, para proporcionar o sucesso pessoal, acadêmico e profissional deles.
Veja mais sobre ansiedade e outros assuntos ligados à saúde mental no podcast do Brasil Escola, com a psicóloga clínica, Raynara Alves:
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Por Jade Vieira
Jornalista